sexta-feira, março 24, 2006

De Profundis, Valsa Lenta


"Morte branca"
É assim que José Cardoso Pires chama à "condição" em que se se viu cair em determinado período da sua vida.

Li este livro há uns 5 anos e este marcou-me para o resto da minha vida. Não só pelo que li mas pelos acontecimentos posteriores à sua leitura.
Nele pude retirar a lição mais importante de todas e que muita gente pensa saber mas que no fundo não faz a menor ideia.
De que vale ter dinheiro, casas, carros, viajar, se a nossa existência é tão frágil ao ponto de um dia de manhã ao pequeno almoço, nos virarmos para a nossa mulher e perguntar-mos:
"Como é que tu te chamas?"- ela responder devolvendo a pergunta: "Eu Edite. E tu?". Resposta: "Parece que é Cardoso Pires"...
Foi aqui que tudo começou, um trajecto descendente até à "condição".
Um processo que o levaria rapidamente à perda total de memória e, consequentemente, da identidade e de tudo aquilo que ela implica. A relação afectiva e intelectual com o mundo e com os outros, em suma, a razão e a paixão que comandam cada gesto e pensamento de cada um de nós.

Por vezes, durante a minha vida, senti, ou pensei sentir-me arrastado para a "condição". É verdade, penso que todos nós já nos sentimos tão perdidos e sem saber de nada como se de uma perda de memória se tratasse...
Mas escrevi "pensei sentir-me" porque na verdade, não tem nada a ver. Uma coisa são os nossos sentimentos e frustrações que nos arrastam para uma "condição", sentimentos esses que podemos ou não combater... mas que podemos (e devemos) combater. Outra é uma doença fulminante que se pode revelar de um momento para o outro e sobre a qual não temos qualquer controle.

Portanto, se pensarmos que enquanto tivermos saúde podemos "TUDO", se conseguirmos esboçar um sorriso, lembrar-nos das pessoas amadas, lembrar-nos da nossa infância, lembrar-nos do gato da vizinha, da flor que vimos no jardim, do pôr-do-sol de um fim de tarde de verão, de um sorriso, de um olhar, de TUDO!!! Podemos ser felizes.
Se, acima de tudo, pudermos lembrar-nos da nossa identidade própria... do nosso EU! Temos tudo para ser-mos felizes.

Beijos e Abraços... e lembrem-se... lembrem-se sempre do vosso EU!!! ;)

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